Você é Introvertido ou Extrovertido? Pensamento ou Sentimento? Sensação ou Intuição? 

Psicologia

Pe. José Carlos dos Santos 

Um importante ramo da psicologia é o que diz respeito ao estudo da personalidade humana. O desejo de conhecer-se, expresso pelo filósofo grego Sócrates com a máxima Conhece-te a ti mesmo, permanece vivo e intenso ao longo dos séculos e das diferentes gerações, recebendo contribuições diversas ao longo dos tempos.   O conhecimento de si, em determinado nível e contexto expressa uma mera curiosidade. É visível nos estudantes de psicologia, por exemplo, que durante as aulas desta disciplina, de modo geral, mostram-se particularmente atentos e absorvidos pelos conteúdos que lhe são apresentados. Mas, mais que uma mera curiosidade, o autoconhecimento é o ponto de partida indispensável para a construção de um sólido e consistente projeto de vida. Conhecendo-se se pode utilizar adequadamente as próprias características, valores e potencialidades em benefício de si mesmo e dos demais. Conhecendo-se objetivamente é possível mensurar as próprias imaturidades, fragilidades e imperfeições, e atuar para corrigi-las ou, quando isto não for possível, colocar sob controle seus efeitos negativos.  

Uma representativa contribuição para a psicologia da personalidade foi oferecida por Carl Gustav Jung, que desenvolveu um prolongado e consistente sistema compreensivo da personalidade, denominado Psicologia Analítica. A obra de Jung é extremamente vasta e complexa. Em certo momento Jung se interessou pela seguinte questão: as pessoas se comportam de formas diferentes, tomam decisões baseadas em diferentes critérios, sentem e expressam os sentimentos de múltiplas formas…. então, como entender esta variedade de formas de se comportar, presentes em indivíduos saudáveis (ou não)? Depois de uma ampla pesquisa, nasceu a obra Tipos Psicológicos, em que Jung apresenta conceitos que são amplamente utilizados, até mesmo pelo público leigo em relação ao estudo sistemático de psicologia.  

Jung entende a mente humana como sistema dinâmico. Se o corpo precisa de energia para realizar cada atividade, o mesmo acontece com nossa organização mental. Pode-se estar cansado ou sem energia física, assim como é possível que o cansaço e a carência de energia sejam para o funcionamento de nossa estrutura mental. A energia psíquica, à qual Jung dá o nome de libido, é utilizada de tal maneira que configura diferentes formas de organização mental, de contato consigo mesmo e com o mundo. Em grande parte, é o modo específico e característico com que cada pessoa organiza e direciona esta energia mental que irá configurar os diferentes tipos psicológicos, ou estilos de personalidade.  

Jung entende a organização mental, nesta ótica, a partir das atitudes e funções psíquicas. Há duas atitudes fundamentais: Extroversão e Introversão. Elas indicam as direções fundamentais da energia psíquica ou libido. Determinam para onde o interesse e a atenção da pessoa se voltam preferencialmente. Na atitude de extroversão (E) a energia flui para o mundo externo (objetos, pessoas, atividades). Por isso, prevalecendo esta atitude, teremos um indivíduo normalmente motivado por fatores externos, fortemente influenciado pelo meio, sociável e confiante socialmente.  Quanto à introversão, diferentemente, a energia flui para o mundo interno (ideias, reflexões, experiências subjetivas). A atitude é de recolhimento, ponderação e proteção contra influências externas. O indivíduo tenderá a sentir-se menos confiante na relação com as pessoas, menos sociável, e optando pela reflexão à ação, e por atividades e hábitos solitários.  

Quanto às funções, elas são os modos ou processos de apreensão e julgamento da realidade, independentemente da direção (introversão ou extroversão) em que são aplicadas. São quatro, divididas em dois pares. As racionais ou de julgamento: Pensamento (T): Julga com base na lógica, verdade e causalidade (“O que é isso?”) e Sentimento (F): Julga com base em valores, harmonia e impacto pessoal (“Qual o valor disso?”). As Irracionais ou de percepção: Sensação (S), que percebe a realidade concreta através dos sentidos (“É algo real e factual?”) e a Intuição (N), que percebe possibilidades, significados e conexões futuras (“O que poderia ser?”). Segundo Jung, então, em cada pessoa as atitudes e funções irão combinar-se de alguma forma: um indivíduo será prevalentemente introvertido ou extrovertido, pensamento ou sentimento, intuição ou sensação. Há múltiplas formas de organização destas variáveis, configurando diferentes e variados tipos psicológicos. A título de exemplo, vejamos como se dá nos casos concretos, como na estória fictícia da Irmã Isabel. 

Irmã Isabel, aos 35 anos, era um membro ativo e dinâmico de sua comunidade religiosa. Entre jovens estudantes, residentes em sua comunidade, e religiosas que ali estivessem de passagem, ela se destacava pela simpatia e pela iniciativa. Na mesa de refeições, sua conversa era sempre acolhedora. Nos recreios, organizava atividades que promoviam convivência e alegria. Dentro da comunidade, sua energia era expansiva e comunicativa. 

No entanto, fora dos muros do convento, Isabel parecia outra pessoa. Em ambientes externos, travava. A ansiedade tomava conta, o sangue pulsava forte, e sua voz se calava. As irmãs comentavam: “É como se fosse outra pessoa lá fora.” 

Isabel era reconhecida por sua clareza e lógica. Sua comunicação era precisa, fruto de um raciocínio bem desenvolvido. Mas havia momentos em que a razão se desfazia: emoções intensas surgiam e dominavam seu comportamento. Nessas horas, a calma se transformava em descontrole, deixando-a culpada e desconcertando também as demais religiosas. 

Havia, porém, um traço que a aproximava de São Tomé: Isabel precisava ver para crer. Confiava nos sentidos, nas evidências concretas, no que podia ser medido e comprovado. Essa ligação com a sensação se revelava de modo especial na culinária. Ninguém temperava como ela: doces, salgados e iguarias saíam de suas mãos com equilíbrio perfeito — nunca em excesso, nunca em falta. 

Já a intuição não era seu ponto forte. Isabel tinha dificuldade em acreditar no que não podia ser demonstrado. Sua imaginação não se desenvolvia com a mesma intensidade que sua lógica ou seus sentidos. Ainda assim, sua vida era marcada por dons múltiplos e pela busca constante de crescimento. 

 

A partir do que dissemos anteriormente é fácil entender que a pessoa acima descrita parece ser predominantemente introvertida. Funciona bem e consegue ser comunicativa em ambientes familiares, mas é pouco confiante e sociável em ambientes externos, e na presença de pessoas que não pertencem ao seu círculo de relacionamentos. Assim, predomina a atitude de introversão sobre a extroversão, mas a extroversão se faz presente em algumas situações, como em todas as pessoas. Outra característica é a prevalência do pensamento sobre o sentimento, sendo este último inconsciente e secundário. Isto permite compreender que embora seja uma pessoa lógica e ponderada, há momentos que o sentimento assume o controle mental, situações em que a atitude se torna emotiva, e por vezes emocionalmente descontrolada. O predomínio da sensação lhe trouxe características muito úteis e valorizadas, em detrimento do pouco desenvolvimento da intuição, que descortinaria diferente horizonte de dotes e qualidades.  

E você, deseja conhecer o seu Tipo Psicológico predominante? Desenvolvi o roteiro a seguir. Não se trata de um teste, com o preenchimento de todos os requisitos exigidos pela psicologia, mas um instrumento que certamente lhe será útil, para confirmar e ampliar o que você já sabe sobre si mesmo. É dividido em duas partes, voltadas para identificar a atitude predominante (extroversão ou introversão) e as funções (pensamento ou sentimento, sensação ou intuição).   

Mini-teste – Construindo seu Mapa Mental

  1. Atitudes – Introversão (I) ou Extroversão (E)
  • Você se sente energizado ao estar com outras pessoas, em grupos e atividades sociais? 
  • Prefere momentos de silêncio e reflexão para recuperar suas forças? 
  • Costuma falar primeiro e pensar depois, ou pensar primeiro e falar depois? 
  • Em reuniões, você gosta de ser o centro das atenções ou prefere observar em silêncio? 
  1. Funções de Julgamento – Pensamento (T) ou Sentimento (F)
  • Ao tomar decisões, você dá mais peso à lógica e às evidências do que aos valores pessoais? 
  • Costuma perguntar: “Isso é verdadeiro?” ou “Isso é importante para mim e para os outros?” 
  • Em conflitos, você busca resolver com argumentos racionais ou com atenção às emoções envolvidas? 
  • É mais fácil para você analisar dados objetivos ou perceber o impacto emocional das situações? 
  1. Funções de Percepção – Sensação (S) ou Intuição (N)
  • Você confia mais no que pode ver, tocar e medir do que em possibilidades futuras?
  • Costuma prestar atenção aos detalhes concretos ou às ideias gerais e conexões ocultas? 
  • Prefere instruções claras e práticas ou gosta de imaginar novas formas e alternativas? 
  • Ao cozinhar, trabalhar ou estudar, você segue passo a passo ou inventa novas combinações? 

Como usar 

  • Não há respostas “certas” ou “erradas”. 
  • Observe quais respostas se repetem mais em você. 
  • Se a maioria aponta para E, você tende à extroversão; se para I, à introversão. 
  • Se prevalece T, você decide pela lógica; se F, pelos valores. 
  • Se predomina S, você confia nos sentidos; se N, nas possibilidades. 

Espero que este texto lhe seja útil. Conhecer-se é o início de um processo fundamental, que deverá levar a aceitar-se e amar-se, e ao empenho para tornar-se a pessoa que internamente deseja ser. Caso se sinta livre, insira um comentário, partilhando sua experiência.   

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