A Estrutura do Projeto Formativo

Formação Presbiteral e Religiosa

Padre José Carlos dos Santos

A razão de ser de todo projeto é facilitar a execução de determinada atividade, objetivando atingir as metas que foram definidas. Os projetos são essenciais, sobretudo porque requerem atenta reflexão sobre a atividade a ser executada, normalmente contando com a assessoria de especialistas. Evitam-se improvisações. Há a prévia percepção dos desafios, dos recursos humanos e materiais necessários, dos principais cuidados a serem tomados. Uma qualidade que não pode faltar a nenhum projeto é a clareza. De nada adianta profundidade e erudição se o projeto não demonstrar, com objetividade, os passos que deverão ser seguidos para se atingir a meta que foi definida.

É necessário ter em mente que não há uma estrutura definida e única para projetos formativos para a formação presbiteral. Creio que esta afirmação valha para todo tipo de projeto. Quanto às atividades de ensino, por exemplo, todo curso, em todos os níveis, devem ter, obrigatoriamente, um específico projeto pedagógico. Como é a estrutura destes projetos? Há aspectos que são comuns, porque são necessários e obrigatórios, mas há grande variedade entre os projetos, de tal maneira que os responsáveis pela organização de cada curso têm o dever de definir o modelo estrutural de projeto pedagógico a ser adotado, e que consideram mais eficaz.         

A Ratio Fundamentalis (nº10) define que o bispo, com o auxílio dos formadores, tem o dever de elaborar um projeto de formação integral, também chamado itinerário formativo, e promover sua efetiva aplicação. Em seguida, o mesmo número faz referência às diversas etapas do percurso pedagógico. As Diretrizes (nº 300) afirmam que se trata de um projeto integral uma vez que versa sobre as quatro dimensões da formação, cujo escopo é “formar o futuro presbítero enquanto pessoa, discípulo e pastor missionário”, de forma progressiva e pedagógica.

Do que se disse anteriormente é possível concluir que o foco do projeto formativo são as dimensões da formação, a serem adequadamente desenvolvidas em cada etapa. A tarefa, então, é elaborar um documento em que são apresentadas as etapas da formação, e a organização das dimensões em cada etapa. Tomando como exemplo a etapa do discipulado, e considerando que esta etapa tem a duração de três anos, o projeto formativo deverá planejar a aplicação de cada dimensão ao longo dos três anos desta etapa. Se uma das metas da etapa da configuração é a maturação humana dos seminaristas, quais atividades-meio serão desenvolvidas, em cada ano, objetivando alcançá-las?

As Diretrizes (nº. 303-306) propõem duas grandes partes para o projeto formativo: teoria e prática. A parte teórica apresenta os fundamentos, objetivos e metas da formação, enquanto na parte prática são elencadas atividades apropriadas à consecução dos objetivos. Formandos e formadores precisam ter clareza, por exemplo, do que se almeja, em termos de crescimento, em cada etapa. Por outro lado, o fato de o formando ter conhecimento, antecipadamente, das atividades formativas que fazem parte do processo pedagógico, poderá favorecer sua abertura interior para a participação consciente e ativa em cada atividade.

As Diretrizes dedicam muitos números aos cuidados pastorais no projeto formativo[1], uma vez que o processo formativo tem por objeto a formação de presbíteros, de pastores. Todas as iniciativas pedagógicas estão voltadas para esta meta, em todas as etapas, a partir do princípio da gradualidade: quais qualidades humanas são necessárias ao exercício do ministério presbiteral? Quais são as virtudes cristãs e especificamente sacerdotais? Que tipo de capacitação intelectual, sobretudo filosófica e teológica, o exercício do ministério ordenado requer?  Como dispor pedagogicamente a formação pastoral, do ingresso no propedêutica à ordenação sacerdotal? Repito o que foi exaustivamente afirmado em texto anterior: o perfil da diocese ou congregação é referência para que o processo formativo saia da generalidade e abstração, como muitas vezes acontece, e reflita o esforço para dialogar com uma realidade concreta, com suas riquezas e desafios.

A Ratio Fundamentalis, também a propósito do projeto formativo, acena para algumas questões que são importantes: as exigências da Igreja Particular, a proveniência dos seminaristas, e a tradição formativa da diocese. Sem entrar em detalhes, os seminaristas precisam conhecer a diocese/congregação, suas exigências, e entender que estará a serviço desta diocese. Se uma necessidade pastoral é o trabalho de evangelização na periferia, o seminarista deverá estar consciente de que, como presbítero, poderá ser orientado ao serviço pastoral nesta realidade. Também é fundamental estar atento à proveniência dos seminaristas, e de cada seminarista, de forma personalizada. A formação não trata de sujeitos ideais e abstratos, mas de pessoas concretas.

É necessário salientar que a elaboração do projeto formativa não pode prescindir da sabedoria acumulada em cada diocese, em cada seminário, com a experiência, por vezes prolongada, no exercício desta atividade. É o que se entende pela expressão tradição formativa[2]. Há uma riqueza que foi construída, que tem se mostrado amplamente eficaz, e que precisa ser conservada e aprimorada. 

Concluo afirmando que, ao meu ver, diferentes perfis de projeto formativo podem ser igualmente úteis e eficazes. O pré-requisito é que seja construído pela Igreja Particular, para a realidade da Igreja de Jesus Cristo nesta porção do povo de Deus, e aplicando as orientações e normas presentes nos documentos aprovados para esta finalidade. Os frutos serão produzidos não somente a partir da melhor qualidade do processo formativo então devidamente planejado. A atividade de construção do projeto formativo, em si mesma, será decididamente edificante. 

Perguntas que pode ser úteis:

  1. Quais são os passos a serem dados para a construção ou atualização do projeto formativo? Em sua diocese ou congregação, quem deverá participar desta atividade e por quê?
  2. Sabemos que a formação deve, necessariamente, seguir os princípios da gradualidade e da integralidade. Como relacionar etapas e dimensões, de modo que tais princípios sejam observados?
  3. Para que o projeto formativo dialogue com a realidade da diocese ou congregação, quais são as principais urgências e desafios em cada dimensão? E quais são as metas a serem alcançadas?
  4. É possível delinear uma estrutura de projeto formativo, que servirá de referência para o trabalho? Caso o projeto já exista, você considera a estrutura existente satisfatória ou há mudanças a serem feitas?

 


[1]Números 308 a 316.

[2]RF. nº 10.

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