Pe. José Carlos dos Santos
A Igreja sempre teve especial diligência pela formação dos candidatos ao Sacerdócio Ministerial, inspirando-se no exemplo de Cristo que “subiu à montanha e chamou os que ele mesmo quis; e foram até ele. Então constituiu doze para estarem com ele e para enviá-los a anunciar, com a autoridade de expulsar demônios” (Mc 3, 13-15). Nas palavras “estarem com ele” se compreende, pois, que aqueles que foram chamados tiveram o necessário acompanhamento vocacional, tendo eles ao próprio Jesus como formador.
Aos que foram chamados, segundo o Evangelho, o Senhor concedeu um adequado “tempo” de formação. Entre eles se estabeleceu um relacionamento de profunda comunhão (estiveram com Ele), e, sobretudo, o testemunho de vida, visível nas atitudes e virtudes radicadas em Jesus formador. O itinerário formativo dos discípulos, vivido com o mestre, se realizou em um tempo determinado, do chamado ao momento do envio a “todos os povos”, ocorrido na ascensão do Senhor. Em Jesus, portanto, contemplamos o perfil ideal do formador.
A Igreja tem o direito e o dever, próprio e exclusivo, de formar aqueles que são chamados ao Ministério Ordenado (Can. 232). A particular complexidade da formação sacerdotal torna imprescindível a reflexão sobre múltiplas e desafiantes questões: quais são as expectativas da Igreja com relação àqueles que deverão assumir o encargo da formação dos futuros sacerdotes? Qual seria o formador ideal, do ponto de vista humano, espiritual e na sua qualificação psicopedagógica? Quais seriam os critérios para escolha dos formadores, e que tipo específico de formação devem receber, objetivando as exigências da formação dos seminaristas nas circunstâncias atuais?
O êxito da formação dos futuros presbíteros depende, em grande parte, da cuidadosa escolha daqueles que se ocuparão do processo formativo. O documento conciliar sobre a Formação Sacerdotal define que os formadores devem ser escolhidos entre os melhores do presbitério. Tais sacerdotes devem ser de vida exemplar, distinguindo-se pela vivência de específicas e variadas qualidades e virtudes: maturidade humana e espiritual, experiência pastoral, competência profissional, capacidade de colaboração, conhecimento das ciências humanas (especialmente a psicologia) correspondente ao ofício, domínio dos modos de trabalho em grupo (O.T., n. 5; PDV, n. 66).
As qualidades humanas e espirituais dos Sacerdotes destinados à formação, bem como a necessária habilidade para o bom desempenho desta função, exigem atenta e aprimorada preparação. Para atingir este objetivo, os bispos têm o dever de proporcionar-lhes idônea capacitação, organizando institutos e cursos com programas orgânicos, aptos à formação técnica, pedagógica e espiritual, humana e teológica dos formadores. Nestes institutos deverão ser estabelecidos programas objetivando a formação inicial dos formadores, bem como atividades formativas voltadas para a formação permanente e de atualização, sobre temas de particular complexidade e importância. Para atingir este objetivo, poderão ser igualmente úteis encontros de confronto e esclarecimento com especialistas de diferentes áreas, proporcionados por cursos e congressos para formadores dos seminários, a realizar-se periodicamente.
Esta indispensável capacitação requer, para que sejam atingidos os desejados frutos, que os formadores sejam dotados de particulares qualidades humanas: “é evidente que uma grande parte da eficácia formativa depende da personalidade madura e forte dos formadores, tanto sob o aspecto humano como evangélico” (PDV, n. 66). É fácil concluir que uma pessoa psicologicamente imatura será incapaz de oferecer o conveniente auxílio àqueles que estão em caminho, direcionando-se ao sacerdócio. Entre as referidas qualidades humanas, são fundamentais: a maturidade e o equilíbrio afetivo e sexual; a capacidade de trabalho e colaboração em equipe, estabelecendo-se autêntica comunidade educativa, que seja testemunha de fraterna comunhão entre os formadores, e dos formadores com o presbitério e o bispo; a capacidade de escuta e de empatia. Para atingir o satisfatório nível de maturidade humana, o formador deverá dedicar-se à realização de trabalho constante sobre si mesmo, sendo essencial o autoconhecimento, orientado a tornar conscientes os componentes inconscientes e inconsistentes da personalidade.
As circunstâncias do mundo atual, e o consequente influxo sobre a personalidade dos candidatos à vida sacerdotal, além das competências especificamente humanas, espirituais e pastorais para a formação, requerem, como particularmente importantes, a preparação psicopedagógica dos formadores. Muitos erros no acompanhamento dos candidatos e no discernimento (e escrutínio) vocacional, são devidos à fragilidade da formação dos formadores em áreas específicas, como a psicopatológica. Nos tempos atuais se exige que o formador seja “bom conhecedor da pessoa humana, dos seus ritmos, das suas potencialidades e debilidades e do seu modo de viver a relação com Deus[1]”.
A preparação e a sensibilidade psicológica dos formadores deverá torna-los capazes de “perceber as reais motivações do candidato, de discernir os obstáculos na integração entre a maturidade humana e cristã e as eventuais psicopatologias. Ele deve ponderar cuidadosamente e com muita prudência a história do candidato. (…) O formador deve saber avaliar quer a pessoa na sua globalidade e progressividade de desenvolvimento – com os seus pontos fortes e os seus pontos fracos –, quer a consciência que ela tem dos seus problemas, quer ainda a sua capacidade de controlar responsável e livremente o próprio comportamento[2]”.
A preparação psicológica dos formadores deverá ser suficiente, ainda, para a delicada escolha dos especialistas nas ciências psicológicas que deverão ser colocados a serviço da formação, nos casos em que se julgar necessário, e para o acompanhamento e avaliação crítica dos resultados obtidos pelos seminaristas em tais atividades avaliativas.
Os formadores deverão possuir, sobretudo, a conveniente competência para guiar o candidato às ordens no não fácil itinerário de discipulado[3] e configuração[4] de si a Jesus Cristo, Cabeça e Pastor, no serviço do anúncio do Evangelho a todas as criaturas. A forma privilegiada deste itinerário educativo será o testemunho oferecido pelos formadores, e sobretudo a respeito dos seguintes valores: vida de oração, configuração a Cristo, amor e serviço à Igreja. Como pessoas em caminho, é fundamental que os formadores estejam sempre dispostos à formação de si mesmos, capazes de aprender com a vida, com as circunstâncias e com os próprios seminaristas. A autoridade do formador advém de sua identidade de discípulo-missionário, que o tornará aceito, acolhido e amado pelos formandos.
O primeiro e fundamental agente da formação sacerdotal é o Espírito Santo. Nenhuma colaboração humana, em nenhum nível, se sobrepõe à ação da Graça. Porém, a Graça age respeitando a natureza humana que, por sua vez, poderá ser aberta à Sua ação, ou poderá impor-lhe obstáculos em diversos níveis. Por estes motivos, a reflexão sobre o perfil ideal do formador poderá tornar-se útil para fomentar o conhecimento das próprias virtudes e debilidades, e de suas consequências sobre o acompanhamento dos futuros presbíteros.
Proposta de trabalho: delinear o perfil ideal do formador, isto é, as qualidades necessárias ao desenvolvimento desta específica atividade educativa. Textos recomendados: Optatam Totius, n. 5; Pastores Dabo Vobis, n. 66-67; Orientações para utilização das competências psicológicas, n. 3-4; Ratio Fundamentalis, n. 132-139.
[1] Orientações para utilização das competências psicológicas, n. 3.
[2] Orientações para utilização das competências psicológicas, n. 4.
[3] Ratio Fundamentalis, n. 61-67.
[4] Ratio Fundamentalis, n. 68-73.