Projeto Formativo para os Seminários e Igreja Particular

Formação Presbiteral e Religiosa

Pe. José Carlos dos Santos

Nem todas as pessoas têm o hábito de elaborar projetos. Certamente, esta atividade raramente será elencada entre as mais simples e prazerosas, e seguramente o planejamento não faz parte da cultura do povo brasileiro. Somos habituados a agir movidos pela criatividade e pela improvisação, características que nem sempre podem ser classificadas como virtudes. Por isso, a urgência de confeccionar ou atualizar projetos formativos para os seminários está provocando insegurança em muitas pessoas, como se fosse uma atividade altamente complexa e desafiadora.

Ao empreender a tarefa de redigir o projeto formativo, o primeiro cuidado deverá ser com a atitude interior ao desempenhar semelhante serviço. Os sentimentos seguem o que pensamos sobre determinada realidade. A tarefa será desenvolvida com maior eficácia e prazer se for entendida como uma atividade natural, plenamente realizável, que proporcionará certamente grande crescimento para as pessoas envolvidas, e que é imprescindível para os formandos e para a Igreja Particular.  Compor a equipe que se ocupará do projeto formativo é acima de tudo um privilégio. O projeto formativo jamais poderá ser o resultado do trabalho de uma só pessoa, por mais capaz que seja. Objetivando a formação dos futuros presbíteros em uma determinada diocese, o projeto formativo está sob a responsabilidade primeira do bispo e dos formadores, devendo envolver e espelhar a realidade de toda a Igreja diocesana.

Há quem questione a necessidade de se elaborar um projeto formativo para os seminários, argumentando que são suficientes a Ratio Fundamentalis e as Diretrizes. Há países de pequenas dimensões em que semelhante questionamento se justifica, o que não é, absolutamente, o caso do Brasil. Sendo verdade que o objetivo das Diretrizes é adotar “em cada país ou rito, um método peculiar de formação sacerdotal[1]” as dimensões continentais do território brasileiro, e sobretudo a profunda diversidade eclesial postulam a exigência de se elaborar um projeto, com o objetivo de declinar a normativa das Diretrizes e a pedagogia que a inspira, segundo a realidade e as exigências de cada Igreja Particular[2]

Mas, o que isto significa? Enquanto o presbítero se destina ao serviço da Igreja, tendo a missionariedade como uma de suas dimensões, concretamente ele irá desenvolver o seu ministério incardinado em uma Igreja particular, ou como membro de uma Congregação Religiosa. O serviço ao povo de Deus presente numa específica diocese será significativamente beneficiado por um processo formativo, tanto inicial quanto permanente, que considere as especificidades eclesiais, sociais e culturais de cada porção do povo de Deus. 

Portanto, entendo que deverá fazer parte do projeto formativo uma boa síntese da história da diocese, bem como a apresentação da realidade atual, com especial atenção às urgências e desafios. A partir da pergunta sobre as características da realidade a ser evangelizada, das pessoas às quais o presbítero deverá anunciar o evangelho, deverá seguir-se o perfil do presbítero a ser formado. Esta inicial reflexão deverá ser seguida de iniciativas pedagógicas práticas, concretas, no todo do itinerário formativo e em cada dimensão.

A título de ilustração, é fácil perceber que se determinada diocese se ocupa, majoritariamente, da evangelização num grande centro urbano, os desafios desta contextualização deverão ser acompanhados de específicas intervenções pedagógicas. Por sua vez, uma diocese cujo contexto sejam paróquias no interior de Minas Gerais, cujo acento sejam Igrejas históricas e religiosidade popular, deverá levar a iniciativas formativas que capacitem o presbítero para tal contexto sócio-eclesial. Poderíamos multiplicar indefinidamente os exemplos da diversidade da realidade eclesial brasileira, e a necessidade de propor iniciativas pedagógicas específicas que capacitem os futuros presbíteros para o anúncio do evangelho em cada uma delas.

Voltando ao que se disse anteriormente, uma pergunta que se deverá fazer é: qual o perfil do presbítero para esta porção do povo de Deus? Que tipo de formação ele deverá receber, em cada uma das dimensões? Quais são as principais exigências humanas, espirituais, intelectuais e pastorais? Se não há dúvida de que o Espírito Santo é o principal protagonista do processo de evangelização, e também formativo, à equipe de formadores compete cooperar com a ação da graça, oferecendo aos futuros presbíteros o melhor que estiver ao alcance, e nada menos que isso.    

As Diretrizes recordam que “na formação presbiteral, conjugam-se a ação da graça divina e a resposta humana”[3]de modo que o processo formativo, nas circunstâncias atuais, requer constante empenho e atento discernimento. Em seguida, são apresentadas as coordenadas da formação, que são o contexto como desafio e os fundamentos teológicos, que irão conduzir a um específico processo formativo. Entendo que há desafios que podem ser vistos como universais, enquanto outros são derivados da especificidade de cada diocese. Há componentes da identidade do presbítero que são universais, enquanto outros são originários do contexto de origem do candidato, e simultaneamente da situação concreta à qual ele será enviado a anunciar a boa-nova de Jesus Cristo.

Concluindo, levando em consideração a história da Igreja Particular em que o Seminário está inserido, considerando as urgências e desafios evangelizadores atuais, de que modo as orientações e normas das Diretrizes serão aplicadas no projeto formativo deste Seminário diocesano/religioso?

Perguntas que podem ser úteis:

1) Quais são os fatos mais significativos da história da diocese/congregação, que irão orientar a construção do projeto formativo, e que os formandos precisam conhecer? Recorde-se que só se ama o que se conhece.

2) Qual o perfil sócio eclesial desta circunscrição do povo de Deus? Quais são suas principais urgências e desafios pastorais?

3) Qual o perfil do presbítero para esta diocese/congregação? Que tipo de formação ele deverá receber, em cada uma das dimensões? Quais são as principais exigências humanas, espirituais, intelectuais e pastorais para as quais ele deverá ser adequadamente preparado?

4) Quais as principais contribuições da “cultura formativa” desta diocese? O que há de específico na formação que aqui é oferecida? O que deve ser conservado? O que precisa ser modificado?


[1] Documento 110, nº 2.

[2] Ratio Fundamentalis, nº10.

[3] Diretrizes, n. 6.

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